era sete horas, eu estava chegando em casa. minha virilha estava assada, coçava muito.
eu tinha comprado cuecas apertadas demais. essas coisas põe o cara louco. cuecas apertadas, espinhas, voto obrigatório, café de velório, sorrir, pedir por favor...
tinha 39 anos e ainda não sabia o tamanho das minhas bolas. não ficava olhando muito para elas. cheguei em casa e abri a porta, como todos fazemos. olhei marli na pia, fumando. marli sempre fumava na pia. nunca entendi o porque e nunca perguntei também. existem coisas que não precisam ser ditas nem comentadas.
- olá luca.
- olá marli.
segui ao banheiro e tirei a cueca. estava em carne viva. deus do céu. que horror.
fiz o que tinha que fazer e tomei um café com conhaque. para aquecer o motor.
- temos que pagar o aluguel luca. - estávamos nos falando pouco, marli e eu. e quando nos falávamos ela sempre escolhia os piores assuntos.
- eu sei.
- não parece.
- muitas coisas não parecem ser o que é.
- como o que espertinho?
- como heroína. todos os que usam dizem que é ótimo, e quando vê cozinho o cara por dentro.
- pare de ser ridículo. estou falando sério.
- eu também marli.
bebi outro copo. esqueci do café.
- vamos fazer o seguinte. vamos no bar do magal, tomar umas cervejas, e voltar as quatro da manhã. faz tempo que não rimos. rir faz bem. dizem isso na tv a todo momento.
falavam muitas coisas na tv. um dia isso talvez acabe. alguém um dia vai parar de explodir prédios, tanques, aviões e vai começar a explodir as coisas certas. emissoras de tv, de rádio, servidores de internet, o gabinete da presidente.
- que rir o que! não aguento mais suas cenas de bêbado luca. você é um fracassado que só faz beber e brigar.
- é o meu dom. todos temos um.
aquilo não ia dar em nada. achei por bem sair e farrear por conta.

Qdo foi que começou?
O cliche diz q não se sabe mas eu sei sim.
Começou no colégio, qdo ouvi porch pela primeira vez. Vi o eddie cair do banquinho. E depois vi as letras de suas músicas. Abriu um pedaço do meu cérebro.
Isso me catapultou para filosofia. Filosofia me fez caminhar por lugares diferentes com pessoas diferentes. Me deu sensações únicas.
A grande maioria ruins. Mas uma parte delas foram excepcionalmente boas.
O que o dinheiro não compra é o que vale a pena ter.
A filosofia me levou invariavelmente a uma vida rica de vida. Uma vida sem lugares comuns. Como ja disse passo boa parte do dia com a bilis azeda. Mas isso faz o mel ser mais doce.
Minhas alegrias inebriantes.
Minha filha maravilhosa com seu sorriso, seu "paiêêê".
Minha esposa com um beijo que clareia o mundo!
E agora com as aulas.
Finalmente voltarei a ser professor e por Deus, sou grato o suficiente para fazer disto algo inaudito e digno de ser protegido.
Em rearviewmirror é dito um tolo a sua coroa.
Eu tenho a minha, e sou tolo por opção.

Wonderlust King!!!

e por que não?
fechei meu bar. não quero mais saber de servir bebida. não quero mais destilar a bilis.
tive uma epifânia astronáutica, que me revelou com pitadas de pimenta da guatemala, o real significado da vida, e ele não tem nada de zenão, sócrates, abelardo, hobbes, nietzsche, bozo, ou foucault. ou equivalentes.
de hoje em diante, nada de poesia afetada. nada de teatro babágico. nada de pessimismo niilista sacangero pacas. nada de proposições que nada revelam sobre nada.
vou passar o braço pela cintura de minha mulher, embarcar no meu navio e viajar pelos sete mares, quebrando pescoços, brigando com placas de trânsito, ir alêm das montanhas e vender brinquedos sexuais trans-siberianos em aeroportos (pelo menos é um pouco diferente do que se vende em outros aeroportos). encontrar e ganhar novas definições para pecado, para certo e errado, e não ser preso a nada. e a pessoa ao meu lado saberá que não estou preso a ela, mas que eu escolhi estar. e mesmo minha vontade será dominada por minha vontade, e minha liberdade, apenas eu mesmo.
vou tirar da vida o que não é vida, vou dançar com ciganos, beber com marujos e assar meu papagaio. buscarei informações em primeira mão em padarias, mercados e mercearias sobre o que rola por ai e vou deixar para tras os tolos com seus espantalhos em suas cidades natais. e que se mijem todos de medo de morrer, que se escondam todos com medo de fracassar e perder. fiquem com suas correntes, eu sou jovem e vou viver. se fiem em algo e não ousem jamais. eu farei tudo a minha maneira, cavalgando em gatos, pilotando mulas pelos céus. rodopiando pelas ruas vendo minha fraü dar piruetas.
Porque de hoje em diante eu sou um Rei Desbravador!